Os moradores do bairro Botafogo, na zona rural de São Pedro da Aldeia, participaram de uma programação diferente com a chegada da Feira Cultural Itinerante, especialmente dedicada ao Dia da Consciência Negra. A ação, promovida pela Secretaria Municipal de Cultura, ocupou a praça do bairro com uma série de atividades gratuitas alusivas à cultura afro-brasileira e quilombola. Mais de 50 artistas e empreendedores da cidade participaram do evento e puderam expor os seus trabalhos nas áreas de dança, artes visuais, artesanato, literatura, música, teatro e gastronomia.
A escolha do local levou em consideração a extensa história de luta e resistência travada pelo povo negro de Botafogo, que já ocupava aquela terra antes da abolição do regime escravocrata. No século XIX, o território era a sede da Fazenda da Caveira, para onde eram levados os corpos de escravizados africanos para serem enterrados. Vem daí a origem do nome “Quilombo de Caveira/Botafogo”. Hoje, a comunidade é formada por centenas de famílias, muitas delas descendentes dos negros habitantes da antiga fazenda.
A programação contou com a participação especial do líder quilombola e atual presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombo de Botafogo-Caveira, Roberto dos Santos, o Robertão, nascido e criado na comunidade. “Eu fico muito feliz em ver esse trabalho da Secretaria Municipal de Cultura pelo resgate da nossa história e das nossas tradições quilombolas. Essa ação é também uma homenagem à memória dos nossos ancestrais, que muito lutaram dentro da nossa comunidade para a ocupação desse pedaço de chão. Passamos por muito sofrimento em termos de reivindicação e de luta por essa terra, mas vencemos pela resistência. Fico muito grato por essa parceria com a Cultura, nos contemplando com uma programação tão diversa, e de mais uma vez poder contar a história do nosso povo”, disse.
Fotos: Divulgação/SEMUC
Quem passou pela praça pôde conferir de perto dezenas de peças artesanais confeccionadas por artesãos do município, que ficaram expostas e à venda durante todo o evento. A população também participou de sorteio de brindes e curtiu apresentações de samba de raiz, xote, pop, Bossa Nova, MPB e de música instrumental, com a participação do grupo Eles & Ela, da banda Evidance, da cantora Dani Casilhas e da Orquestra Sons da Aldeia. A dança afro também ganhou destaque com as performances dos alunos da Escola de Artes Municipal e do corpo artístico do Ballet Municipal.
O secretário municipal de Cultura, Thiago Marques, destacou a importância do evento. “A Feira Cultural no bairro Botafogo foi um momento muito representativo e significativo para todos nós, especialmente porque estamos falando de uma região com fortes raízes na cultura afro-brasileira e quilombola. Por ser uma edição especial pelo Dia da Consciência Negra, toda a programação foi preparada para melhor fomentar a temática, desde a escolha do repertório musical até as apresentações cênicas e audiovisuais. A edição foi um sucesso e ficamos muito felizes com o retorno do público. A ideia é abranger todos os bairros, levando arte, cultura e entretenimento às áreas mais distantes do Centro”, destacou.
Foto: Divulgação/SEMUC
As atrações da Feira incluíram, ainda, pintura artística afro, doação de roupas por meio de projeto solidário “Varal do Bem” e apresentações de capoeira com o grupo Ventos do Kilombo. A criançada também pôde se divertir com o teatro de fantoche da artesã e contadora de histórias, Sheila Cunha, apresentando o conto africano “Ubuntu”.
Fotos: Divulgação/SEMUC
O evento também contou com a participação especial do projeto “Fest Music Urban” com a construção de um painel de grafite em homenagem à Zumbi dos Palmares, assinado pelo artista Rick Macell. O projeto social existe há mais de 20 anos oferecendo aulas gratuitas de grafite, desenho, danças urbanas, dança de charme, modelo manequim, DJ e B-Boy, sob a coordenação do professor, agente cultural e músico, Delsinho Moreno, do bairro São João.
“Recebi com muita alegria o convite para participar da Feira Itinerante da Secretaria de Cultura em Botafogo. Sou um assíduo defensor do movimento negro e em todas as nossas ações pregamos a igualdade racial e o combate à discriminação. Acredito que eventos como esse são muito significativos e contribuem para dar visibilidade a essa luta. É muito bacana quando a gente tem um órgão que abraça os artistas e dá oportunidade de a gente mostrar o nosso trabalho. Fomos muito bem recebidos e tudo aquilo que pudermos fazer para agregar junto com a Secretaria, estaremos à disposição”, ressaltou Delsinho.
Foto: Divulgação/SEMUC
A culinária afro-brasileira foi outro ponto alto da programação. Durante todo o evento, ambulantes e profissionais autônomos da localidade puderam comercializar refeições e produtos gastronômicos inspirados na cultura africana, como caldo de cana, a pipoca e a tradicional feijoada – receita da cozinheira Rosângela Barros, moradora do bairro há oito anos. “Trabalho vendendo refeições há mais de 10 anos e fiquei muito feliz em participar da Feira da Secretaria de Cultura. Os moradores aqui da comunidade quilombola adoram feijoada e o pessoal elogiou bastante. Foi maravilhoso, o nosso bairro precisava desse tipo de evento”, contou. Os visitantes também puderam degustar gratuitamente o Omolocum, prato de raízes africanas feito à base de feijão fradinho.
Fotos: Divulgação/SEMUC
Outro destaque do evento foi a exibição do curta-documental “Rosa”, que conta a história da trabalhadora rural e poetisa Rosa Geralda da Silveira, pioneira na luta pelo reconhecimento das terras quilombolas e pelos direitos dos trabalhadores da comunidade da Caveira/Botafogo. O filme, produzido pelo coletivo Em La Barcas Jornadas Teatrais, foi produzido com patrocínio do Governo do Estado e está disponível para acesso no Youtube.
Foto: Divulgação/SEMUC